Feminicídios avançam em Pernambuco e 2025 já é o 2º pior ano da década
Pernambuco soma 87 feminicídios em 2025 e alcança o segundo pior índice da série histórica da SDS. Dados apontam aumento e alertam para subnotificação
Foto: Reprodução O ano de 2025 ainda não chegou ao fim, mas os números da violência já desenham um cenário preocupante em Pernambuco. Até agora, ao menos 87 feminicídios foram registrados em todas as regiões do estado, incluindo quatro ocorrências no mês de dezembro. Como os dados ainda são parciais, o total pode sofrer alterações até o encerramento oficial do ano.
Esse resultado já coloca 2025 como o segundo pior ano da série histórica da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), iniciada em 2016, após a entrada em vigor da Lei do Feminicídio (13.104/2015). O número atual fica atrás apenas de 2016, quando foram contabilizados 112 casos, e empata, até o momento, com 2021, que também registrou 87 feminicídios.
Os dados foram levantados pelo Portal LeiaJá com base nos microdados de Mortes Violentas Intencionais (MVI) da SDS. Entre os meses de 2025, abril se destacou como o mais letal para mulheres vítimas de violência de gênero, com 14 registros.
Crescimento em relação a anos anteriores
Desde o início do ano, os indicadores já apontavam tendência de alta. Nos dois primeiros meses de 2025, houve crescimento de 42% nos feminicídios em comparação com o mesmo período de 2024, mesmo com dados ainda incompletos. Agora, com os números consolidados de todo o ano passado, a comparação mostra novo aumento.
Em 2024, Pernambuco registrou 76 feminicídios. Em 2025, o total chegou a 87, o que representa cerca de 14% a mais, ou 11 casos adicionais, reforçando o avanço desse tipo de crime no estado.
Subnotificação e impacto na rede de proteção
Enquanto os feminicídios aumentam, os registros de violência doméstica e familiar apresentaram queda em Pernambuco. Apesar de, à primeira vista, os números indicarem redução, especialistas alertam que a diminuição pode estar ligada à subnotificação, dificultando o acesso das vítimas à rede de proteção.
Essa análise foi feita pela ativista de gênero, delegada e deputada estadual Gleide Ângelo (PSB), convidada pela reportagem para avaliar os dados e as políticas de acolhimento em vigor.
“Não existe redução, o que reduziu foi a confiança da mulher na segurança. Não é que diminuiu a violência, pelo contrário, as mulheres agora estão sofrendo caladas. Nosso grande trabalho é aumentar o número dos registros. Mulher protegida não morre. O que a gente precisa é que as mulheres entrem na delegacia, confiem na segurança, façam o registro e peçam a protetiva”, disse a delegada ao LeiaJá.
Segundo os microdados da Secretaria de Defesa Social, considerando apenas vítimas do sexo feminino — que representam 94,3% dos casos —, entre janeiro e novembro deste ano foram contabilizadas 42.867 ocorrências de violência doméstica e familiar. Entram nessa conta crimes como ameaça, injúria, lesão corporal, vias de fato e perturbação.
Em média, foram 3.897 registros por mês, com março liderando as notificações, somando 4.265 ocorrências. No comparativo com 2024, quando houve 54.222 registros envolvendo mulheres, a queda é significativa.
“Quando diminui [drasticamente] dessa forma, significa que a mulher não tem confiado na polícia, o que é o contrário de diminuir a violência. Se os feminicídios seguem crescendo dessa forma, não tem como a violência doméstica estar em queda. Não se mede diminuição da violência doméstica por diminuição de boletim de ocorrência. Quando a mulher confia, ela denuncia. O que aumentou foi a subnotificação”, avalia Ângelo.
Casos que marcaram 2025
Entre os feminicídios registrados no estado, alguns tiveram grande repercussão. A massoterapeuta Jaqueline Severina do Nascimento, de 46 anos, morreu após cair da janela do próprio apartamento, no bairro de Campina do Barreto, no Recife, em 16 de fevereiro. A Polícia Civil concluiu que ela foi agredida e jogada do primeiro andar pelo ex-marido, Alberico Luiz de Souza, de 47 anos, que foi preso.
Outro caso foi o de Isabele Gomes de Macedo, de 40 anos, morta em um incêndio criminoso provocado pelo marido, Aguinaldo José Alves, no dia 29 de novembro. Com ela, estavam os filhos Aline, 7, Adriel, 4, Aguinaldo, 3, e Ariel, 1, que também morreram. O crime ocorreu em um barraco da Ocupação Icauã Rodrigues, no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, e teve repercussão nacional. O autor foi preso no mesmo dia.
Já em Petrolina, a professora Elizângela Santos Oliveira, de 45 anos, foi assassinada pelo marido com golpes de foice na noite de 21 de dezembro, no bairro de Dom Avelar, logo após retornar da igreja evangélica que frequentava. O suspeito, Cícero João de Araújo, foi preso em flagrante.
Como denunciar violência contra a mulher
Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados pelo telefone 180, da Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas por dia, inclusive em fins de semana e feriados. Em situações de flagrante, o 190, da Polícia Militar, também pode ser acionado.
No Grande Recife, é possível ainda utilizar o Disque-Denúncia da Polícia Civil, pelo telefone (81) 3421-9595. Denunciar é um passo essencial para romper o ciclo de violência e acionar a rede de proteção.




COMENTÁRIOS